top of page

Ônibus incendiados: prejuízos financeiro, psicológico e social

A Real Rio, a Beira Mar e a Flores foram alvo, entre março e abril, de um tipo de vandalismo contra o transporte público por ônibus, cada vez mais frequente no Brasil: apedrejamento e incêndio. Os números são alarmantes. Segundo a NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro lideram o ranking de ocorrências, nesta ordem. Em 2016, foram queimados 257 ônibus em todo o País. De acordo com a Fetranspor, no Rio de Janeiro, 43 coletivos foram incendiados no ano passado. E, este ano, em apenas cinco meses, o número de ônibus destruídos de forma criminosa no Estado do Rio já chegou a 56 e o setor já acumulou um prejuízo de 42 milhões de reais.

O tempo de espera para a reposição de um ônibus incendiado pode chegar a seis meses, entre as etapas de encomenda, montagem, entrega e licenciamento do veículo. O custo de reposição da frota já chega a 19,8 milhões.

O caso mais recente de ataque a um veículo do Grupo JAL ocorreu dia 26 de abril, com ônibus da Flores, na Rua Antonio Davi,  Vila Amélia, em Duque de Caxias. Já a Real Rio teve três de seus veículos incendiados, todos do modelo Apache 2014, com ar condicionado, e todos operando na linha Central x Cabuçu. O primeiro foi no dia 7 de março, na Vila Kennedy, Zona Oeste do Rio, e os outros dois dias 14 e 21 de abril, na Avenida Abílio Augusto Távora, em Nova Iguaçu, um em frente ao condomínio Dom Bosco e outro no Grão Para. O prejuízo da Real Rio chegou a R$ 500.000,00. Os passageiros também foram prejudicados com a falta desses ônibus nas linhas. Segundo os jornais, as ações dos criminosos se deram em retaliação a ações policiais nos locais.

Nervosismo e desespero

O motorista Esdras Rodolfo de Souza, que dirigia o veículo incendiado na Vila Kennedy, disse que na hora pensou que fosse um assalto. “Eles quebraram o vidro próximo de mim, os passageiros se desesperaram, pediram para abrir as portas para que eles pudessem descer. Foi quando caiu a ficha, nunca havia acontecido isso comigo; fiquei nervoso. E se eles não tivessem esperado não sei o que aconteceria, pois não deu tempo nem de tirar o dinheiro, eles que tiraram e me entregaram. Quando eu abri as portas eles já foram jogando gasolina, foi muito rápido”, conta.

Elson Azevedo da Silva, motorista do ônibus incendiado dia 14, disse que no momento não entendeu muito bem o que estava acontecendo. “Imaginei que fossem pessoas voltando da igreja. Só entendi quando começaram a jogar coisas no ônibus; uma garrafa cheia de gasolina quebrou a janela e imediatamente abri as portas; foi um desespero. Dois meninos entraram pela porta da frente, gritando e pedindo para eu virar o ônibus na via. Consegui pegar minhas coisas, pular a roleta e ajudar uma passageira que estava com quatro crianças; ela estava chorando e ainda não tinha conseguido sair, eu peguei duas crianças e ajudei ela a sair; conseguimos sair todos”, lembra.

Fernando Nogueira de Souza, que dirigia o veículo do dia 21, disse que cerca de oito meninos, entre 12 e 15 anos, entraram na frente do ônibus e pediram para cruzar o ônibus na via e abrir a porta. “Assim que entraram já começaram a me agredir na cabeça, uns mandavam eu sair logo, outro já pegou no volante para virar o ônibus. Quando abri as portas entraram mais ou menos 15 meninos já jogando gasolina e havia uma menina também”.

“Cenário de guerra”

No dia 31 de março, também em retaliação a ação da Polícia, no bairro Venda Velha, em São João de Meriti, criminosos incendiaram um ônibus da Beira Mar, um Caio Apache VIP OF 1519. O motorista Anderson Silva de Paula contou que foi assustador: “Eles chegaram mandando descer e não deu tempo de mais nada. Abri as portas para os passageiros descerem e desci em seguida. Alguns passageiros não conseguiram nem levar seus pertences. Minha preocupação depois foi avisar os outros colegas da linha, que viriam em seguida, para não passar pelo local”.

Após a violência sofrida, Elson diz ter nascido novamente. “Eu vi um cenário de guerra. Tive que me locomover a pé, por um longo caminho até conseguir pegar um transporte, pois haviam sido queimados mais dois ônibus, um da Glória e outro da Ponte Coberta. Só tenho que agradecer a Deus pelo livramento. Nasci de novo”. Fernando orienta os colegas que nestes momentos a única opção é não reagir “Bens materiais podem ser recuperados, mas a vida não”, diz.

Leia também na Revista Ônibus:

Comments


bottom of page